Durante três dias, Salvador esteve mergulhada em discussões culturais que a mídia desconhece.
Durante o 5º Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura (Enecult), encerrado na última sexta-feira, foram apresentados 250 trabalhos de universidades espalhadas pelo Brasil.
Entre as falas dos pesquisadores brasileiros e dos convidados internacionais, o que se viu foi uma discussão que, cada vez mais, afasta-se da visão tradicional de cultura.
“Além do tema da diversidade, têm se tornado comuns as discussões da cultura como gênero, até em detrimento de temas tradicionais, como artes plásticas e literatura”, observa o professor Albino Rubim, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), coordenador do encontro.
Nos chamados estudos da cultura, levados a cabo por áreas diversas do conhecimento, como letras, sociologia e comunicação, cultura nada tem a ver com erudição.
“Trata-se de uma visão ampliada, de uma visão antropológica da cultura”, diz Rubim.
A questão da diversidade cultural, tornada tema mundial a partir da aprovação de uma convenção da Unesco, em 2005, também esteve presente com força às mesas.
A Convenção pela Diversidade Cultural, que possibilita a discussão das questões culturais fora do âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC), está na base, por exemplo, da política do setor desenvolvida no Brasil.
A maior atenção dada às culturas populares ou a manifestações religiosas e festivas faz parte dessa diretriz.
Para Albino Rubim, as políticas desenvolvidas pelo Ministério da Cultura (MinC) tiveram, sim, efeito sobre essa produção antes deixada à margem.
“Os setores subalternos passaram a entender que o que fazem é cultura. Uma coisa é a cultura existir. Outra coisa é ela ser reconhecida como tal”, pontua.
Ele admite, porém, que nos setores médios da sociedade, essa percepção ainda é difusa. “Para quem não produz, a cultura ainda é muito relacionada, no Brasil, com a educação. Para as classes mais altas, a cultura ainda está associada à arte, ligada a alguma erudição.”
Outro assunto que permeou o Enecult foi a política cultural.
Apesar de ser ainda um campo recente e disperso no Brasil, o estudo da política cultural protagonizou alguns debates, como aquele que procurou identificar os efeitos da crise sobre a cultura.
A Lei Rouanet, inevitavelmente, veio à baila. Afinal de contas, o mecanismo, por uma série de distorções, acabou por tornar-se sinônimo de política cultural no Brasil.
Para Rubim, a reação de certos setores da cultura às mudanças propostas pelo MinC evidenciam que a diversidade cultural, mesmo que defendida em público por todos, ainda está longe de ser um caminho de fato aceito.
“A palavra diversidade entrou na moda e todo mundo diz que é favor da diversidade. Mas desde que isso não implique na distribuição de verbas”, cutuca o professor.
Encontros como esse de Salvador ajudam a mostrar o quão anacrônicas são certas posturas quando o assunto é cultura.
http://anapaulasousa.blog.terra.com.br/2009/05/31/diversidade-e-a-palavra-da-moda-mas-a-visao-da-cultura-ainda-e-elitista-diz-professor-da-ufba/
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