segunda-feira, 9 de março de 2009

Esperar o quê? Esperar pra quê?

fonte: http://www.culturaemercado.com.br/post/esperar-o-que-esperar-pra-que/

Leonardo Brant 7 março 2009

fabiopinheiro
Há um Pedro Pedreiro em mim. Lembro como se fosse hoje, não faz tanto tempo. Vivíamos em estado de euforia. Sensação de que as coisas iriam realmente mudar. Ancinav debaixo do braço, Rede Globo na mira, majors em perigo. Não faz muito. Vinha mudança da Lei Rouanet, Sistema Nacional de Cultura, Conferências, Plano, Câmaras Setoriais, Pontos de Cultura, uma verdadeira revolução encabeçada por Gilberto Gil. “Alguma coisa mais que linda que o mundo, maior do que mar…”

Não sei de fato o que aconteceu com o furacão Gil. Já não queria mais ser ministro e artista, já no final da primeira gestão. Aprontou um forrobodó, levantou a poeira que estávamos precisando. Disse-nos que podíamos seguir em frente. Mas, de repente, o ar se rarefez pelos lados da cultura. Também pudera: a tarefa de substituir Gilberto Gil não é assim tão fácil. “Mas pra que sonhar se dá o desespero de esperar demais”

Ficamos atônitos, sem palavra, sem gesto. E o MinC sem gestão, sem capacidade de articulação. De ressaca, acumulada desde o vazamento do projeto da Ancinav que, coincidência ou não, circulou junto com a proposta de cerceamento de certas liberdades de imprensa, conquistadas nos anos pós-ditadura. Aquela coisa tão importante, espinha dorsal da Política Gil, virou pó. Hoje é tabu, palavra proibida. Causa arrepios e calafrios. Acumula-se a tantas outras decepções na sala de espera do governo Lula.

O governo prometeu rediscuti-lo, mas a coisa foi esfriando, esfriando. E nós esperando.
Esperei muito tempo por um Sistema Nacional de Cultura que saísse do papel, mas já estou mais conformado, cortando um fuminho de corda na varanda.

Esperei a Lei Rouanet, que viria depois do Seminário “Cultura para todos”, quem se lembra? Esperava de fato a mudança, ela viria no final de 2003, no máximo em março de 2004. Marcaram data, comitiva de frente, estardalhaço, comemoração. Um banquinho, um violão. Quando tocávamos no assunto, assovio bossa-nova.

Depois veio a segunda gestão, a promessa do Mais Cultura, “a primeira política cultural do Brasil”, segundo Lula. R$ 4,7 bilhões. No segundo ano do programa, não vimos mais do que R$ 200 e poucos milhões, re-alocados de outros programas, sobretudo do Cultura Viva, que já nem sei mais se existe ou se foi incorporado pelo Mais Cultura.

Mais Cultura é um anti-programa. Não tem cheiro, nem cor, nem graça, tampouco personalidade. Não sabe de onde veio nem pra onde vai. Um placebo. Tem embalagem, marketing, verba, mas sem efeito algum. Pior do que isso, se alimenta de coisas úteis e inovadoras e as transforma em pontos de interrogação. Tenho alertado aqui o que o Mais Cultura vem fazendo com o Cultura Viva, que perdeu totalmente sua personalidade e suas características conceituais, para virar pílulas de manutenção de um aventureiro no poder.

Tá bom, então vamos esperar o orçamento, um fundo público, autônomo, democrático, gerido pela sociedade. Em vez disso corte de 78%. Que tal uma rede? Boa idéia, uma rede de gente esperando. Enquanto revezamos nosso descanso, nessa coisa entre o susto e a apatia, podemos fazer alguma coisa. E não é que a rede está realmente aumentando.

E tem de tudo nessa rede. Tem artista, produtor, ponto de cultura, de leitura, de memória (é ponto que não acaba mais), tem intelectual, tem gente de comissão de frente e de bastidor. Tem funcionário do MinC. Aliás, como tem funcionário do MinC esperando o trem passar. Eles sabem, aliás, que mais cedo ou mais tarde vem coisa melhor a ocupar a cadeira, a mesa e o ar-condicionado. Isso eles sabem como ninguém.

Tem de tudo ali: perseguidos, na geladeira, na frigideira, rebaixados, realocados, repatriados, desembestados. Tem uns esperando, outros, cansados de esperar, pedem para sair. E ficam esperando em outro lugar.

Talvez juntem-se a nós aqui no mercado, na sociedade, nos movimentos, nos casarios, nos becos, nas pontes. Tem a turma do acarajé, do pão-de-queijo, da maniçoba e até da erva-mate. Tem gente do PT, PCdoB, PMDB e até do PV. É P que não acaba mais.

E talvez se cansem de esperar. Talvez queiram algo mais. E enquanto esperam, vão se mexendo, movimentando.

Vou logo deixar esse dedo-de-prosa que o trem vem chegando. Mas antes de descansar, não esqueça de assinar a petição por menos impostos para a cultura, pois a “esperança aflita, bendida, infinita” não pode perder para o medo.

Até o fechamento deste texto já somos quase 2 mil cansados de esperar. Assine, divulgue, que o trem já vem, que já vem, que já vem…

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