terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

O Ornitorrinco Gestor

fonte: http://www.culturaemercado.com.br/post/o-ornitorrinco-gestor/



O conjunto de certezas a que a modernidade já chegou não permitiria que coisas absurdas continuem acontecendo. E estas continuam acontecendo como se nada tivesse ocorrido nesses últimos três mil anos.

Quando será, enfim, o amanhã? Se hoje sempre o deixamos para depois? O ser humano, quando detentor de poderes públicos, principalmente, acontece de muitas vezes perder a razão e o real dimensionamento de sua importância no cotidiano. As palavras são nossas e ao mesmo tempo do outro também. A alteridade do conhecimento precisa ser praticada e anunciada.

Em sua maioria, os políticos empossados formam um time de seres decalcados da realidade, jogando o jogo absurdo do poder contra o poder, tendo os secretários como seus merecidos gandulas.

Tudo estaria bem, não fosse alguns ainda viverem na era ptolomaica. Isto é, estão um pouco mais do que muito antes da antiguidade, no que diz respeito a conceitos, percepções e direitos humanos.

Há essa espécie perdida no limbo da evolução da vida na terra. Não é essa passando agora mesmo no outro lado da rua. Já não estamos falando dos políticos, mas do nobre ornitorrinco, que passou à história como a prova viva e estacionária dos vários estágios que se seguiram para se chegar aonde hoje estamos todos, cada um no seu galho.

Acontece que o nobre ornitorrinco, que se fixou na transição entre répteis e mamíferos (ele é um mamífero ovíparo), pode também ser a metáfora de um certo tipo de comportamento que, insistentemente, resiste à evolução. E agora, sim, estamos novamente falando dos políticos, de forma geral.

Falamos do homem público, especialmente dos gestores, aliás, às vezes comumente chamados de antas. Ou mesmo de aproveitadores, dissimulados, também de desonestos e por aí, sendo quase que inúmeros e quase que sempre justos, os motivos de tais chamamentos e comparações.

Não pretendemos aqui elaborar um tratado escatológico do político e gestor público brasileiros. Seria pura perda de tempo. Afinal, eles parecem não ler jornais, quando apelados à reflexão; somente quando são cobrados por gente simples que, com artigos, por exemplo, em uma revista eletrônica, se torna porta-voz do povo decepcionado que os elegeu, momento em que se dizem injustamente perseguidos.

Mas seria interessante nos ater a uma classe de político considerada de transição e, qual o ornitorrinco, muitas vezes resistente à evolução em seus meios e modos, apresentando práticas nitidamente estagnadas. São os secretários, muitos deles apenas eternos seres servientes de não se sabe que idéias e ideais.

Sempre na ante-sala do poder e nos bastidores da ação, muitos na retaguarda da reflexão, os secretários lutam por um lugar ao sol, mas devem sempre estar à sombra de seus respectivos mandantes, ao qual secretariam.

Muitas vezes eles são obrigados a agir contrariando seus interesses, seja pela pressão vinda de baixo ou pela pressão vinda de cima. Mas isso não é nenhum incômodo, pois na maioria das vezes, do tipo de secretário de que falamos, a eles não importa o que querem, mas somente importa aonde estão.

Os dias se sucedem e a simples proximidade com os poderosos os satisfaz e parece lhes transmitir poder, ingênuos e obtusos que são. Procura-se uma osmose, que com o passar do tempo rareia cada vez mais e os definha no caráter.

Embora de hábitos noturnos, agindo na calada da noite, e símbolos do passado vivendo no presente, definitivamente, há coisas a que nem o ornitorrinco, o verdadeiro, aceitaria se submeter.

Uma Resposta para “O Ornitorrinco Gestor”

  1. on 28 Jan 2009 at 10:25Carlos Henrique Machado Freitas

    Pois é, meu caro PX!
    Imagino que andaste passando uns dias aqui nas terras de Araribóia.
    Terra santa dos eternos feriados para os, ditos cujos, gestores públicos da nossa matriarca costeira.

    Tenho a impressão de que tais gestores são, quando úteis politiqueiramente (raridade) para o patrãozinho, uma espécie de Dirceu Borboleta dos Odoricos que, por sinal, são muitos por aqui.

    Aqui, no Estado do Rio, a cultura vive um certo Estado de Sítio,
    as figuras carimbadas e já manjadas da velha política (Do leme ao pontal não há nada igual), chegam em caravanas civilizatórias a descobrir, ainda ,as terras cabrálias das “Cidades Mortas”, à caça de um certo título messiânico, inspidados num certo Tenório Cavalcante da era digital.

    Essas figuras caminham entre o povo como numa comitiva rumo a posse (Bloco dos Napoleões). Placas, condecorações, discursos e etc. E cá, pelos lados da (Serra das Araras), Papagaio de Pirata chega todo PROSA.
    É moço branco nas terras broncas, banhado de água de cheiro, gomalina no rabo de burro, trazendo a boa nova junto com os Três Reis Magos magros de recurssos e fai esta gente boa, faz até da cana verde, caldo de garapa adoçado na marra para levar para a sua casa na Lapa e pingar umas gotinhas de adoçante, esses que migram dos bistrôs para entoar, em uníssono e em tom exótico no bonde do gringo, os cânticos e suas acentuações à bangú. Então ouviremos, “coitado do Zé Mariáaaa”….

    Coitado mesmo do Zé Maria, carregador de piano, ver essa gente toda fazê-los de marionetes a seus gostos e modos, vendendo um “Brasil Místico” e seu messianismo vilipendiador.
    É O ALINHAMENTO POLÍTICO POLIDO DAS TRÊS ESFERAS DO PODER!

    Ai, é festa. Imagina um encontro do caça-patrocinios, com a autoridade legislativa das muitas esferas do poder, o secretariado e seus efeitos colaterais caminhando lado a lado.

    Sim, o mote cultural tem se transformado em um jogo de camisas para o time do cascudo de futebol de várzea. Tá tudo dominado! Infelizmente, comunidades inteiras estão nas piores mãos e debaixo de um chantagem vil que não há como descrever.
    O pior de tudo é o estrago que isso faz dentro das comunidades, pois os contrários ao alinhamento com esse indigesto gestor, acabam transformando a vítima que é o próprio parceiro de comunidade, em algoz. E a fragmentação de um bloco social unido pela cultura, vai sentindo os impactos dessa intervenção.

    A valorização do palanque, picadeiro preferido desse enorme circo tem como figura simbólica e brasão central, os patriarcas e as matriarcas.

    Todos à postos, um mote está ali incauto a ouvir o efeito dominó ao contrário. Então, puxamos a fieira dos bagres e o discurso segue…. “ESTAMOS HOJE AQUI INAUGURANDO MAIS UM “PONTO DE CULTURA”, POR INTERMÉDIO DO FULANO, CANDIDATO A VEREADOR QUE FALOU COM O VEREADOR AQUI PRESENTE, QUE FALOU COM O DEPUTADO QUE AQUI ESTÁ, QUE CHEGOU NA MESA DO SECRETÁRIO ESTDUAL, QUE PASSOU PARA O SECRETÁRIO FEDERAL, QUE PASSOU PARA O MINISTRO”. Tudo isso de cultura!!!!!!

    Rufem os tambores! Soltem os foguetes! Alguém vai gritar, “é sua vez Nezinho! E ele grita… Viva o Odorico, amigo do povo! Mas, como todos sabemos, escondem a cachaça do Nezinho, porque depois das duas da tarde, Nezinho vira lobisomem e começa a comer políticos.

    Mas não posso reclamar, um dia ainda viro “Monteiro Lobato”, a fazer crônicas, dessas pérolas, verdadeiras fábulas concretas para divertir gerações. Essa gente é um poço de inspiração de uma água infinita. Quanto mais fazemos buraco, nós, os Jecas-Tatus, mais o poço faz água.


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