sábado, 21 de fevereiro de 2009

Quando a arte abre caminhos

Hugo Rodrigues

fonte: Jornal O Fluminense
Publicado em 19/02/2009

Unindo música, cinema e talentos, o longa Contratempo estreou nos cinemas levando ao público personagens comuns, mas com exemplos de vida e superação. O filme, que marcou a estreia de Malu Mader na direção, conta a vida de jovens músicos que mudaram de rumo devido à arte. Em cena, meninos e meninas dos projetos Villa-Lobinhos, Orquestra Pró-Arte, ambos do Rio, e dos niteroienses Aprendiz - Música na Escola e da Orquestra da Grota.

No início, o filme seria apenas um curta contando a história do projeto Villa-Lobinhos, no qual Malu Mader foi convidada a ser madrinha da iniciativa. Com o tempo, a ideia foi amadurecendo e Malu convidou Mini Kerti, uma diretora mais experiente, para dividir com ela a função no documentário, que não teria mais o projeto com plano central, mas sim, os jovens músicos. Foi neste momento, que os novos projetos foram incluídos no filme.

"A escolha foi feita em cima de meninos do Villa-Lobinhos com quem já tínhamos uma relação mais estreita, uma empatia natural. Com isso, descobrimos que eles também tinham uma conexão com o pessoal da Grota do Surucucu e com o projeto Aprendiz. Resolvemos, então, abandonar aquilo como idéia central. Assim, o filme partiu como sendo um longa do projeto, mas a partir dali, passou a ser sobre esses jovens músicos", explica Malu Mader.

Da ‘Cidade Sorriso’ para Nova Iorque

Considerados dois dos novos talentos da música clássica brasileira, os gêmeos Wagner e Walter Caldas, de 23 anos, da Orquestra da Grota, são exemplos de Contratempo, que deram certo na vida.

Filhos do luthier Jonas Caldas, envolveram-se com a música através da Orquestra da Grota e foram bolsistas do Villa-Lobinhos.

O talento dos dois é tanto que, atualmente, eles estão estudando música em Iowa, nos Estados Unidos.

Durante o filme, a produção acompanhou os gêmeos na viagem à Nova York, para apresentações e estudo.

"A viagem para Nova York com os gêmeos foi muito engraçada e emocionante", destaca Mini Kerti.

"A música é também um meio de sobrevivência, uma possível profissão. Além de estarem ali se formando como músicos, eles estão se formando como pessoas", completa.


Cotidiano - Outro destaque de Niterói é a jovem Marcela Galvão, de 19 anos, que mora no Caramujo e começou na música há seis anos no Aprendiz, que leva música clássica às escolas da cidade.

Com a base musical preenchida através do Aprendiz, a jovem foi selecionada para tocar no Villa-Lobinhos.

Mini conta que a escolha por Marcela se deu pela emoção da jovem e por ela tocar violoncelo, algo incomum para meninas.

"A Marcela, por exemplo, escolhemos, porque uma mulher tocando violoncelo é incomum, não imaginávamos que ela seria uma personagem tão forte. Ela é incrível, tem a emoção à flor da pele. Então, cada um foi escolhido por alguma particularidade", destaca Mini.

No filme aparece todo o trajeto que Marcela percorre em seu cotidiano para ter aulas de música no Rio. Este é um dos pontos que, para Mini Kerti, Contratempo se torna tão emocionante.

"A Marcela viaja quase duas horas todo dia, com o violoncelo nas costas. Então, é uma imagem muito significativa. A oportunidade foi dada, sim, mas é preciso um esforço pra alcançar. Na minha opinião, as imagens dizem coisas que não necessariamente as entrevistas dizem", conclui.

Em cena

Villa-Lobinhos - Nascido em 2000, sob a administração do Movimento Viva Rio, Organização Não-Governamental (ONG) criada em 1993. Viabilizado com o apoio do Instituto Moreira Salles e do Museu Villa-Lobos, funciona sob a coordenação pedagógica de Turíbio Santos. Promove educação musical para jovens instrumentistas de baixa renda.


Orquestra da Grota - O projeto começou há mais de 20 anos pela iniciativa de Otávia Paes Selles. Após sua morte, em 1998, o filho e maestro, Marcio Paes Selles, junto com Lenora Pinto Mendes, assumem a direção do trabalho, voltando-o para o ensino de música. Surgiu assim a Orquestra de Cordas da Grota.


Aprendiz - Criado em 2001, por iniciativa da Prefeitura de Niterói, através da Secretaria Municipal de Cultura e da Fundação Municipal de Educação. Teve início com aulas de canto e de instrumentos de sopro e corda oferecidos a 270 crianças. Hoje, atende mais de dois mil alunos, de dez escolas da rede municipal, sob a coordenação dos maestros Márcio Paes Selles e Bernardo Bessler.


Orquestra Pró-Arte - Os seminários de Música Pro-Arte do Rio de Janeiro foram criados em 1957 por um grupo de músicos e professores liderados por H.J. Koellreutter, com o objetivo de criar uma escola de música que se opusesse ao padrão de ensino acadêmico. Hoje, conta com 30 professores, sob a presidência da professora Elza Usurpator Schachter.


O Fluminense

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